22.3.11

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O PREC EM 2008
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o deus Silêncio ostenta as Inumeráveis
águas nesta apertada livraria de Lisboa
também ainda o primeiro título (poesia) de Manuel
António Pina em ano de revolução que
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nesse tempo eram mesmo
a sério as revoluções e podíamos acrescentar-lhes pela rua
o nosso carme as madrugadas flores
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agora um amigo diz-me: «esta
revolução não dá um passo!»
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concedo, mas não desisto
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incorro em certos delicados actos de guerrilha
por exemplo deixo poemas em cafés ou em pequenas
livrarias que ainda apoiam em segredo esta causa
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revolucionária
depois mando as coordenadas sigilosas à amada
que no dia seguinte quase sempre
pela tarde os vai buscar
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[Miguel Manso, in Quando Escreve Descalça-se, 3ª ed., Trama, 2011]

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