11.3.10

Branca de Neve

“Não era isto que eu tinha inicialmente previsto. Houve uma noite de insónia e de manhã, no café, eu combinei com o director de fotografia fazer o filme assim, em cinzentos. Fez-se uma manhã de rodagem um bocado diplomática (porque estava toda a gente convocada) em que, contrariamente ao que se diz, eu me diverti imenso. Dediquei a manhã à leitura de dois textos, ia alternando de um para o outro. Um era Execración contra los judios. É um texto anti-semita que eu aconselho vivamente. É sobre as tropelias que os judeus portugueses fizeram na corte de Filipe IV, séc. XVII. Tropelias argentarias, bem entendido. O outro, também do Quevedo, é um texto mais satírico, são as Graças e desgraças do olho do cu. Eu achei interessante fazer-se um filme que tomasse o ponto de vista do olho cego, do olho que não vê, do olho discreto, oculto geralmente em duas belas rotundidades.”
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[João César Monteiro em entrevista a Diogo Lopes a propósito de Branca de Neve (2000), in João César Monteiro, Cinemateca Portuguesa, 2005]

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