23.2.10

“Mas será que Lisboa ainda tem centro? Ainda é uma cidade? Pois o que é o centro de uma cidade à noite se não forem os teatros – e os sons das palmas? E com teatros, os cafés, as cervejarias, os cinemas, as paragens de táxi, os passeios, os quiosques? Eu não conheço cidade onde a noite seja menos pública do que em Lisboa. Ir ao cinema é meter-se num buraco dentro de um centro comercial; ir ao teatro é quase sempre procurar uma sala nas margens da cidade, lá nos confins, onde ninguém mais passa. Ir à ópera já se sabe, é quando o rei faz anos e já não há reis. Quem chegue pela primeira vez a Santa Apolónia e suba a Baixa ficará com a impressão de que não há um único cinema em Lisboa (nem um cartaz, nem um néon, nem uma sala até ao São Jorge) e que teatro, há o D. Maria e acabou-se. Não conheço cidade mais deserta.”
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[Jorge Silva Melo, in Deixar a Vida, Cotovia, 2002]

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