17.4.08

Problemas da música portuguesa

.
.
Na vossa opinião, porque há cada vez menos gente a trabalhar em prol de uma música genuinamente portuguesa?
.
Luís Varatojo – Porque se apagaram as memórias. A maioria dos putos, na altura de começarem a fazer coisas, nem sabem o que é a música portuguesa, porque nunca a ouviram na rádio, porque vão às prateleiras das lojas e não a têm disponível. Quando estive na Fnac de São Paulo, a secção de música brasileira fazia duas ou três vezes a de pop-rock internacional. Aqui é ao contrário: nas Fnac portuguesas, o canto da música portuguesa é cada vez mais pequeno. Se a música não está viva, não se meche nela, se não se fazem novas abordagens e propostas, é claro que o público também estagna. Quem conhece música portuguesa são os meus pais, que têm 60 anos. Depois há umas franjas muito pequenas que sabem quem é o Sérgio Godinho, o Fausto ou o António Variações, embora este último tenha sido objecto de uma campanha de marketing ultimamente…
Maria Antónia Mendes – No caso do Variações foram mais publicitados os projectos que o cantavam…
Luís Varatojo – Depois há aquele problema que às vezes se depara com A Naifa. Isto não é uma música portuguesa pura, dizem uns, enquanto para os outros isto também não é rock, é uma música armada em fado. E ficamos ali no limbo. Ora, quando fazes este tipo de experiências, é aqui que andas, normalmente. Isto constitui um perigo e uma intimidação às pessoas que fazem música. Por isso, não arriscam e ou fazem fado tradicional, que está bastante bem visto, ou então fazem rock cantado em inglês. E a nossa música moderna vai aparecendo aos repelões.
.
[A Naifa em entrevista ao Actual (suplemento do Expresso) de 5/4/2008]

Sem comentários: