25.11.07

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TRISTE-FEIA
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Assim julgam ganhar o pouco
dinheiro da felicidade,
tão propício a luxos de estação.
Assim: na maior tristeza,
na reles promessa de um destino
que hesitam em chamar pelo nome.
Eu, de pé no autocarro cheio, não trabalho.
Terei sequer direito à palavra?
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Pouco importa. Limito-me a ver
a sincera mentira dos seus gestos,
a ilusão de estarmos aqui
como quem sobe, arduamente,
a Maria Pia. Olheiras, fedor
e escarros vão pontuando
as curvas já sem rio de chegarmos.
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É o preço que pagam ou recebem
para não serem felizes
e acharem por força que são.
Como dizer-lhes, de pé, que
não consigo gostar deste cemitério?
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Arrombo a casa sem porta,
termino já de rastos o poema,
abate-se sobre mim o que não quero.
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[Manuel de Freitas, in Blues for Mary Jane, & etc, 2004]

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