2.11.07

Lisboa Monumental (1)

.
.
A propósito de duas exposições de arquitectura reunindo trabalhos dos alunos da Escola de Belas Artes e da Sociedade Nacional de Belas Artes, Fialho de Almeida escreveu um longo texto, publicado em dois números da Ilustração Portuguesa, com o título Lisboa Monumental. Estávamos em 1906 e, ao mesmo tempo que criticava implacavelmente quase toda a arquitectura e urbanismo que se ia fazendo (a Praça Saldanha “cheia de casarões e cubatas imbecis”, a Av. Ressano Garcia em “estado de selvajaria boçal” ou o Palácio da Ajuda “com o ar de um quartel”, “no meio de uma aldeola indecente”), propunha um conjunto de obras grandiosas, uma Lisboa utopicamente monumental.

Este artigo foi depois editado em livro e reeditado recentemente pela Frenesi (em 2001) e vou passar uma vista de olhos por algumas das suas propostas:
.
.
Para a rotunda do Marquês de Pombal sugeria Fialho quatro palácios nos pontos cardeais, que serviriam para as sedes de associações médicas, comerciais ou outras, intervalados por edifícios para concertos, exposições e também residências particulares. O parque, “com a rica grade forjada”, teria belvederes e cascatas de fontes.
.
.
Uma questão que ainda hoje não está resolvida é a ligação entre os jardins da Escola Politécnica com a Avenida da Liberdade, para o qual Fialho propõe uma “entrada de estilo grille, um hemiciclo de estátuas ou colunas, onde muito bem podiam estar Brotero e Garcia de Orta”.

Para a entrada do Campo Grande, vindo da Av. Ressano Garcia (actual Av. República) sugere-se um grandioso arco do triunfo:
.
.
Para a Avenida da Índia, que Fialho entendia dever ter o triplo da sua largura na época, propunha no relvão central “estátuas de todos os heróis das descobertas e conquistas, o que daria ao estrangeiro que entrasse o rio, com essa fileira de colossos, uma ideia senhoril do povo luso”.
.
A Avenida da Liberdade podia “ir recolhendo nos seus relvões, de ambos os lados, todas quantas gentes merecessem da glória, e valesse a pena fixar na perpetuidade cultural das gerações”, mas aqui sob a forma de monumentos mais pequenos.
.
.
A margem sul do Tejo, imagina-a Fialho como a zona industrial por excelência da capital, uma “outra grande Lisboa de forjas e martelos, a Lisboa fabril, eriçada de chaminés e fumos londrinos”, empurrando para lá as indústrias de Alcântara e Poço do Bispo, desobstruindo estas zonas “dos hangares, barracões e feios depósitos de mercadorias que ali se ajuntam, vedando ao lisboeta de gema a margem do seu Tejo”.
.
Para ligar as duas margens deveria ser construída uma ponte para caminho de ferro e peões:
.
.
(continua)

Sem comentários: